sábado, 27 de fevereiro de 2010

Servidão contratual


Eu fico impressionado com a visão presente em muitos materiais didáticos sobre a relação entre senhores feudais e os camponeses por ele dominados e explorados através do regime conhecido por servidão.

Por exemplo, na apostila para ensino fundamental do Sistema Positivo de Ensino, ao tratar da servidão, não é usada nenhuma vez a palavra exploração, o mesmo ocorrendo com a palavra dominação, ou qualquer outra similar. Pelo contrário, ao falar das obrigações servis, o texto da apostila diz o seguinte:

“Em troca das terras cedidas aos camponeses, eles deveriam trabalhar alguns dias por semana nas terras do senhor...” (p.28).

A idéia de fundo aqui é que a servidão é uma relação contratual voluntária entre senhores de terra e camponeses, com cada um tendo suas obrigações e seus benefícios na relação e todos sendo felizes para sempre.

Fica parecendo que o senhor Jesus Cristo passou a escritura das terras européias aos bons e nobres senhores feudais e que os camponeses, recém-chegados de Marte, ficavam muito felizes em receber uma porçãozinha de terra dos bons nobres, bondade esta retribuída com alguns favores bobinhos, que não custavam nada...

É uma distorção altamente ideológica, que, talvez inconscientemente, emula a idéia de que as relações entre classes dominantes e classes subalternas não são baseadas na dominação e na exploração, mas, sim, em relações de trocas de serviços benéficas para todas as partes.

Curling Brasileiro

Já que meu assunto nos últimos posts foi a Olimpíada de Inverno em Vancouver, aqui vai uma foto simplesmente genial sobre a febre de Curling que se abateu sobre o Brasil.




Diretamente do twiiter de Amanda Ansaldo

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Estações de esqui no Brasil melhorariam o rendimento de esquiadores na Itália?

As transmissões esportivas brasileiras são recheadas de ufanismo chulé que há muito é motivo de piada entre as pessoas sensatas o bastante para não se deixar levar por esses papinhos de “Brasil-il-il!!”. Qualquer jogo do campeonato de bocha das Ilhas Faröe, se uma das equipes tem um membro brasileiro, a narração esquece qualquer imparcialidade e vira torcida. Qualquer brasileiro participando de qualquer competição que seja ou é o favorito, ou é promissor, ou alguma explicação tem que ser dada para que isso não ocorra. Não sejamos injustos: nem toda narração esportiva deste tipo é burra. Costumam ser meio chatas e bestas, mas nem sempre são burras. Mas, bem... as vezes são burras.

Eu estava agora há pouco assistindo o início das competições de Esqui Alpino – Slalom Gigante no Sportv 2. Na verdade eu estava assistindo o Curling e fiquei meio puto quando cortaram pro Slalom Gigante. Tentei procurar outro canal que tivesse passando o Curling, mas todos tinham cortado para o Slalom Gigante por que um brasileiro seria o 70º a descer a montanha fintando as bandeirinhas: Jhonatan Longhi. Acabei me rendendo, por que apesar de não ser tão emocionante como o Curling, até que o Slalom Gigante é legal (e é disparada a competição esportiva com o nome mais bacana: Slalom tem uma sonoridade foda, e não é qualquer Slalom, é o Slalom Gigante!! Muito bacana).

Tendo um brasileiro pra descer a montanha, obviamente o assunto na narração era o cara. Até aí tudo bem. Pois então o cara desceu (segundo o repórter, no sacrifício, devido a uma dor no ombro) e fez um tempo do meio para trás na classificação geral (entre os 70 que já tinham descido, ficou em 58°, mas em tese os trinta e poucos que desceriam depois dele tendiam a ter tempos inferiores, pois tinham pior classificação inicial, se eu entendi bem). O comentarista então cravou que era um bom resultado. Longhi parecia concordar, comemorou no final da descida. Pô, achei bacana o cara ficar satisfeito. Beleza! É isso aí. Estar nas olimpíadas já é maneiríssimo, conseguir descer aquela montanha sem cair é show, fazer um tempo que acha bom, excelente! Tava tudo ótimo. Parabéns ao Jhonatan Longhi.
 
Mas pombas! Isso é uma transmissão esportiva brasileira narrando um brasileiro! Ele não é o melhor do mundo nem é promissor! Então vamos logo às explicações para esse desvio terrível da natureza. O tal comentarista começou com ponderações que parecem perfeitas: devemos comparar o resultado do brasileiro com esquiadores de outros países que não têm ou têm poucas estações de esqui. Identificando que nesta comparação o brasileiro estava bem, o comentarista emendou: imaginem se o Brasil tivesse estações de esqui? Jhonatan Longhi estaria brigando lá na frente!

Por que ele estaria? Por que teria mais tempo para treinar? Por que não precisaria deixar seu país para praticar seu esporte? Nada disso. Jhonatan Longhi nasceu no Brasil, mas foi morar na Itália aos dois anos de idade, adotado por um casal de italianos. Vive lá e treina por lá mesmo. Sem tirar o mérito do cara, por que brasileiros que cresceram na Europa ou na América do Norte existem aos montes, isso é até a explicação de ele ser o melhor esquiador brasileiro. Então fica a pergunta: por que a inexistência de estações de esqui no Brasil afeta o rendimento de Jhonatan Longhi? Só o carinha da Sportv pode nos responder.

Obama quer empatar o jogo com o Canadá, mas tá difícil

EUA vencem o Canadá no Hockey no Gelo, pelas olimpíadas de inverno em Vancouver. Mas os torcedores canadenses têm razão:


Diretamente plagiado do Kibeloco

Sobre o hiato

Em 6 de fevereiro eu prometo um rápido comentário sobre um pequeno aspecto da pesquisa que analisei. Em 23 de fevereiro cumpro a promessa. Meio longo o hiato, reconheço.

Contando apenas com as desculpas de que houve um animado carnaval no meio desse hiato e que eu perdi o maldito pdf da pesquisa para justificar essa falta de atualização, reconheço que realmente o furor bloguístico do primeiro mês talvez não se confirme daqui em diante. Arrumei umas responsabilidades para esse ano, que talvez ainda aumentem, e ainda tenho que parir uma dissertação de mestrado (ainda não fecundada, diga-se de passagem – no máximo tá rolando umas preliminares).

Mas o blog fica aqui. Para quando eu tiver tempo e disposição para testar hipóteses sobre assuntos que eu não entendo.

Sobre as curiosidades numéricas da pesquisa analisada abaixo



Eu tinha prometido um comentário sobre umas esquizofrenias estatísticas que observei nos detalhes da pesquisa CNT/Sensus que analisei abaixo. Mas este que vos bloga, bem imbecil, apagou o pdf da pesquisa e não consegue achar o raio do pdf na internet de novo. Pois então vocês terão que confiar em mim (o que não chega a ser um problema sério) e na minha memória (aí complicou).

Em diversos subgrupos eu percebi uma queda do percentual de “Não souberam/Não responderam” comparando o cenário com Ciro Gomes e o cenário sem o pré-candidato do PSB. Até pensei numa explicação para isso: algumas pessoas estão em dúvida entre Ciro e alguém e, quando Ciro sai, o entrevistado decidi-se pelo voto nesse outro.

Mas não era só a porcentagem de “Não souberam/Não responderam” que caía com a saída de Ciro do cenário. Em diversos subgrupos a intenção de voto em Dilma Rousseff também oscilava negativamente. Claro que podemos botar isso na conta do papa da margem de erro. Mas uma coisa não sai da minha cabeça.

Por exemplo: pelo que lembro (os números podem estar errados, mas a idéia está correta) no grupo de renda acima de 25 salários mínimos, com Ciro na disputa, 10 pessoas dizem que vão votar em Dilma (é uma porcentagem alta, porque o grupo é pequeno). Quando Ciro sai do cenário e a pergunta sobre em qual dos candidatos o camarada votaria apenas 8 dizem que votariam em Dilma. Ou seja, quando se tirou o nome de Ciro Gomes da lista, duas pessoas desistiram de votar em Dilma Roussef! Não dá pra botar na conta do papa da margem de erro! Ou eu não entendo nada disso e dá?

Ou eu não entendo nada sobre como essas pesquisas são feitas (bem provável) ou as pessoas são muito surtadas (bem possível).

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ciro Gomes, José Serra e o efeito “recall” nas pesquisas “estimuladas”


Dia desses descobri uma coisa bem óbvia, mas que eu nunca tinha pensado: é possível ter acesso aos números completos dessas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais visitando o site dos institutos de pesquisa. Assim que descobri a roda isso, me animei em fazer algum tipo de análise desses números, até prometi isso no twitter. É algo temerário, alguém analfabeto em estatística como eu fazer isso, mas pode ser divertido também, e por isso me arrisquei. Escolhi a última das pesquisas publicadas, a CNT/Sensus nº100, realizada entre os dias 25 e 29 de janeiro.

Na minha modesta opinião, nesta altura do campeonato, os números mais importantes são os da sempre esquecida pesquisa de resposta espontânea (quando o entrevistado perguntado em quem votaria para presidente fala o nome que lhe convier, sem qualquer lista de candidatos entre os quais escolher).

Uma curiosidade que eu tenho e gostaria de analisar nessas pesquisas, é a interseção entre os que afirmam que votarão no candidato do Lula (ou no candidato do PT) e os que dizem que votarão em Dilma Rousseff na pesquisa de resposta estimulada (quando é apresentada ao entrevistado uma lista de candidatos). O gap dessa interseção, a meu ver, mostraria pelo menos em parte uma real potencialidade de crescimento da pré-candidata petista com o crescimento contínuo de sua exposição para o público como a candidata do Lula e do PT (e seria interessante para estudar a tal transferência de votos de Lula para Dilma de um jeito menos wishful thinking que o chute do presidente do ibope discutido abaixo)

Porém, esses dados inexistem nos relatórios da pesquisa que eu folheei. Enquanto os números da estimulada são detalhados a partir de diversos parâmetros (região, tamanho da cidade, escolaridade, renda, etc.), a espontânea é dada apenas em seus números gerais. Achei uma pena.

Mas então fui atrás de alguma coisa interessante para analisar, e achei uma ponto em que há maior riqueza de dados no relatório: o fator Ciro Gomes. O CNT/Sensus apresentou duas possibilidades de composição do quadro de candidatos a presidente: o primeiro com Ciro Gomes, Dilma Roussef, José Serra e Marina Silva; o segundo com apenas os três últimos, sem Ciro Gomes. A partir disso podemos tentar entender um pouco da transferência de votos que ocorreria com a saída de Ciro Gomes da corrida presidencial e também um pouco do próprio eleitorado de Ciro. A partir disso cheguei a algumas conclusões sobre o caráter das intenções de voto manifestadas nessas pesquisas.

Para essa análise parti de uma premissa que não corresponde com a realidade de fato, mas que metodologicamente torna o trabalho funcional e razoável. Assumi que a única diferença entre a estimulada com o Ciro e a sem o Ciro é a sua simples ausência: isto é, a única movimentação de votos que ocorre é a de eleitores de Ciro para outras respostas da pesquisa – isto se mostra falso de fato, por que em alguns sub-grupos os números de Dilma Rousseff e da opção “Não souberam/Não responderam” oscilam negativamente, o que para mim é um grande mistério: por que pessoas que votariam em Dilma com Ciro Gomes na disputa mudam de opção quando Ciro sai... mas estes são meandros das pesquisas de opinião pública que eu desconheço mesmo, culpa do meu analfabetismo no assunto que estou dando pitaco.

O primeiro ponto que destaco é quanto ao que me parece uma fragilidade da candidatura Ciro Gomes. Acompanhem meu raciocínio.  Na pesquisa de limite de voto (que consiste em oferecer quatro possibilidades de resposta para o entrevistado frente ao nome de um candidato: “único que votaria”, “poderia votar”, “não votaria” e “não conheço”), 8,2% dos entrevistados afirmaram que Ciro Gomes seria o único candidato em quem votariam. Suponhamos, então, que estes 8,2% fazem parte dos 11,9% que manifestaram intenção de voto em Ciro Gomes na pesquisa estimulada. Porém, quando o nome de Ciro sai da lista, estes 8,2% não migram para uma resposta “Não souberam/Não responderam” ou “Nenhum/Branco/Nulo” – apenas 0,1% migram para a primeira e 0,9 migram para a segunda. Todo o resto daqueles que “votariam apenas em Ciro Gomes” migram para outras candidaturas. Isso me dá a impressão que boa parte do eleitorado de Ciro Gomes está construído apenas no que alguns chamam de recall: os entrevistados manifestam intenção de voto em candidatos que já foram candidatos anteriormente (e por isso são mais conhecidos do público). Essa é uma hipótese um pouco precipitada da minha parte, mas ganhará força daqui algumas linhas, pois servirá de explicação para um dado importante.

Pois vamos lá, o que chama mais atenção de fato é para que candidaturas vão esses votos dos eleitores de Ciro Gomes (lembrando sempre daquela minha premissa metodológica fundamental que não corresponde totalmente com a realidade). 63,02% dos eleitores de Ciro Gomes (7,5% do universo geral dos entrevistados) passam a escolher José Serra como seu candidato quando o nome de Ciro é retirado das opções. Em um longínquo segundo lugar na preferência dos órfãos de Ciro está Marina Silva com 22,69% (2,7% do universo geral dos entrevistados). Ou seja, os eleitores de Ciro, um governista, curiosamente migram para as candidaturas da oposição. Apenas 5,88% dos que manifestaram preferência por Ciro na estimulada (meros 0,7% do universo geral de entrevistados) passam a manifestar intenção de voto em Dilma, a outra candidata governista, quando o nome do pré-candidato do PSB sai da lista.

Poderíamos estar frente a um dado que demonstraria que o discurso de candidatura plebiscitária usado pelo PT não está ecoando no eleitorado, pois eleitores de um governista migram para oposicionistas... mas acho que a explicação para este fenômeno não suporta esta leitura. Qual seria esta explicação? Avancemos no argumento, mas guardem esta palavra: recall.

Eu não sei bem como lidar com essas questões técnicas de pesquisa por amostragem, mas se tivermos que manter a margem de erro nesse caso (como me parece provável), a transferência de votos de Ciro pra Serra é ainda mais impressionante. É o único caso que ultrapassa (e bem) essa margem (a margem de erro da pesquisa é 3 pontos percentuais, a transferência de Ciro pra Serra é de 7,5, como vimos).

A consistência da transferência de votos de Ciro para Serra pode ser observada se nos atentarmos aos detalhes. Seguindo a mesma idéia da análise dos números gerais acima, analisei os números detalhados sob quatro parâmetros: região, porte da cidade, renda e escolaridade. Em todos (sem nenhuma exceção mesmo!) os subgrupos desses quatro parâmetros José Serra é o maior beneficiado da transferência de votos de Ciro Gomes. Em todos (sem nenhuma exceção mesmo!) esses subgrupos Serra cresce acima da margem de erro quando Ciro sai da disputa. Os números dessa transferência são bem estáveis em todos os subgrupos, sempre oscilando em torno dos 60% do eleitorado de Ciro.

A transferência de votos para Marina também é considerável, em seis dos dezessete subgrupos chega a ficar acima dos 3% da margem de erro. Já no caso de Dilma, a transferência nunca supera a margem de erro, em cinco dos dezessete grupos chega a oscilar negativamente e em outros dois chega ao cúmulo de cair abaixo da margem de erro (mas justamente nas duas mais altas faixas de renda, dois grupos pouco numerosos, no qual qualquer intemperança dos entrevistados afeta demasiadamente as porcentagens*).

O que poderia explicar esse comportamento inesperado do eleitorado? Eu vejo duas possibilidades. A primeira vai na esteira do que eu disse acima. Boa parte das intenções de votos nas pesquisas estimuladas ainda são, nesta altura do campeonato, determinadas pelo recall. Desta maneira, quando o nome de Ciro Gomes, alguém que já foi candidato, sai da lista, seus “eleitores de recall” migram para a única outra candidatura que se beneficia do mesmo mecanismo: a de José Serra. Isto é, muitos entrevistados ao se verem frente de uma lista de candidatos em um momento tão distante ainda das eleições acaba manifestando intenção de voto em Ciro Gomes motivados pelo conhecimento do candidato que já foi candidato (o tal do recall). Estas pessoas, ao perderem esta referência acabam fazendo outro recall, agora o de José Serra.

A segunda possibilidade de explicação é imaginar que Ciro Gomes significa uma válvula de escape para aqueles setores do eleitorado que a princípio não pretendem votar no PSDB, mas que também não aprovam o governo Lula. O problema desta explicação é que a transferência Ciro-Serra deveria variar mais por entre os diversos sub-grupos da amostragem caso esta fosse a explicação, se concentrando mais nos setores nos quais a aprovação de Lula não é muito alta.

Por isso acredito que, neste momento da corrida presidencial, essas pesquisas por resposta estimulada ainda são muito reféns do recall e precisam ser analisadas a partir deste dado.


*Pretendo escrever sobre essas curiosidades dos números que notei olhando no detalhe das pesquisas no próximo post.

A Bárbara Gancia me bloqueou no twitter!

 
Por essa eu não esperava...

Eu estava exercendo aquele sadio ócio no twitter quando leio um RT (no old way) de um tweet da Barbara Gancia. Como eu sigo ela por lá, estranhei não ter recebido o tal tweet antes. Fui então conferir na página dela e descobri que ela havia me bloqueado!

Fiquei sinceramente impressionado. Impressionado por ela ter lido o meu post aqui neste blog tão obscuro, criticando a defesa feita por ela ao Boris Casoy; e impressionado por ela ter decidido me bloquear ao ler esse post, pois considero a crítica que fiz a ela bastante moderada.

A única coisa que poderia parecer ofensiva, em minha opinião, é a tag “formas de vida humana sem cérebro” que rotula o tópico. Mas essa tag era devido a referência ao Casoy no tópico, não a ela.

E o motivo do block só pode ter sido isso mesmo, por que não faço referência a ela há muito tempo no twitter (desde a vez que ela me respondeu, fato que relatei no post anterior) e me referi a ela dessa vez apenas com uma chamada para o texto aqui no blog.

Talvez ela não tenha lido o texto e imaginou que era apenas um texto de um “idiota latino-americano”, como ela se refere à esquerda na fatídica defesa de Casoy (inclusive, na minha opinião, a parte mais tola do post dela, e eu nem comentei no meu texto). Imaginando isso, me bloqueou sem ler... ou leu e bloqueou, talvez não seja muito afeita à críticas... ou talvez ela seja uma sennista ferrenha e odiou meu post sobre o Schumacher!

Enfim, é a vida.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A melhor cena de ação de todos os tempos

Bollywood sempre genial.




Créditos para o blog "1 milhão de helicópteros: cinema para as massas"

O Wishful Thinking de Montenegro


A expressão Wishful Thinking se refere a um dos conceitos da teoria da tomada de decisões mais interessantes e facilmente identificáveis na realidade. Segundo a Wikipédia,

“Wishful thinking é uma expressão inglesa que por vezes se utiliza na língua portuguesa devido a ser de difícil tradução, e que significa tomar os desejos por realidades e tomar decisões, ou seguir raciocínios, baseados nesses desejos em vez de em fatos ou na racionalidade.”
“Muitos estudos provaram que, se todas as outras condições se mantiverem iguais, os sujeitos irão prever que os resultados positivos são mais prováveis do que os resultados negativos”

Pois é impossível não pensar em wishful thinking ao ver as declarações do presidente do IBOPE, Carlos Augusto Montenegro (mais conhecido pelo seu papel de cartola à frente do Botafogo).

Frente aos últimos números da pesquisa CNT/Sensus, que identificou grande crescimento das intenções de voto em Dilma Rousseff, Montenegro declarou ao blog de João Bosco Rabello e de Ricardo Kotscho (encontrei os dois posts a partir do blog Tijolaço, do Brizola Neto) que Roussef está próxima de atingir o teto de transferência de votos de Lula. Segundo Montenegro, a candidata petista seria responsável por apenas 2 pontos percentuais destes 30, sendo os 28 restantes debitáveis da transferência dos votos de Lula – e que isto seria um teto na possibilidade de transferência de votos.

De onde o presidente de um dos maiores e tradicionais institutos de pesquisa tira esses números? Do seu wishful thinking. Nada mais que isso. Montenegro tem um desejo: o PT não vencerá as eleições presidenciais. E quer transformar este desejo de qualquer forma eu um argumento, por mais que a realidade se negue a cooperar.

Vejam o seguinte: Montenegro afirmou em entrevista ao panfleto à revista Veja em setembro do ano passado (entrevista transcrita no blog Vi o Mundo) que Dilma havia atingido o teto de transferência de votos de Lula, algo entre 15 e 20% do eleitorado. Agora que Dilma reformou seu pé-direito e chegou aos 30%, Montenegro afirma que este é o teto.

Ok, ok, o teto poderia mudar com o tempo, as análises poderiam variar. Uma argumentação razoável poderia explicar tal variação. Porém, ao lermos a argumentação (sic) de Montenegro em setembro do ano passado para dizer que o teto de Dilma era 20% e lermos a argumentação (sic) para afirmar o mesmo dos atuais 30%, percebemos que o argumento é o mesmo! Sem trocar uma vírgula.

O argumento de Montenegro é minimamente coerente, apesar de eu achar que ele desconsidera pontos fundamentais e que também tem um pouco de wishful thinking misturado com uma cegueira para o “além–classe média”, mas o argumento se sustenta minimante, mesmo que não concordemos com ele.

Segundo Montenegro, a alta aprovação de Lula está descolada do PT, e a imagem deste está muito arranhada depois do episódio do mensalão. Desta maneira, quando a campanha colocar a questão de mais quatro anos de governo do PT (e não de Lula) ou uma alternativa para isto, as pessoas tenderão a não votar no candidato petista.

Como eu disse, não concordo com esse argumento, mas ele tem lá sua coerência interna. O problema (e que acaba com tal coerência) é derivar deste argumento que o teto de Dilma são os 20% que ela alcançou e, alguns meses depois, assistindo uma escalada das intenções de voto em Dilma, afirmar, a partir dos mesmos argumentos, que o teto de Dilma são os 30% recém-alcançados. Não faz qualquer sentido isso. É mero wishful thinking. Um wishful thinking tão frágil que o próprio Montenegro, na entrevista ao blog do Kotscho, encerra afirmando que uma vitória de Dilma não o surpreenderia (!!!).