sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Wishful Thinking de Montenegro


A expressão Wishful Thinking se refere a um dos conceitos da teoria da tomada de decisões mais interessantes e facilmente identificáveis na realidade. Segundo a Wikipédia,

“Wishful thinking é uma expressão inglesa que por vezes se utiliza na língua portuguesa devido a ser de difícil tradução, e que significa tomar os desejos por realidades e tomar decisões, ou seguir raciocínios, baseados nesses desejos em vez de em fatos ou na racionalidade.”
“Muitos estudos provaram que, se todas as outras condições se mantiverem iguais, os sujeitos irão prever que os resultados positivos são mais prováveis do que os resultados negativos”

Pois é impossível não pensar em wishful thinking ao ver as declarações do presidente do IBOPE, Carlos Augusto Montenegro (mais conhecido pelo seu papel de cartola à frente do Botafogo).

Frente aos últimos números da pesquisa CNT/Sensus, que identificou grande crescimento das intenções de voto em Dilma Rousseff, Montenegro declarou ao blog de João Bosco Rabello e de Ricardo Kotscho (encontrei os dois posts a partir do blog Tijolaço, do Brizola Neto) que Roussef está próxima de atingir o teto de transferência de votos de Lula. Segundo Montenegro, a candidata petista seria responsável por apenas 2 pontos percentuais destes 30, sendo os 28 restantes debitáveis da transferência dos votos de Lula – e que isto seria um teto na possibilidade de transferência de votos.

De onde o presidente de um dos maiores e tradicionais institutos de pesquisa tira esses números? Do seu wishful thinking. Nada mais que isso. Montenegro tem um desejo: o PT não vencerá as eleições presidenciais. E quer transformar este desejo de qualquer forma eu um argumento, por mais que a realidade se negue a cooperar.

Vejam o seguinte: Montenegro afirmou em entrevista ao panfleto à revista Veja em setembro do ano passado (entrevista transcrita no blog Vi o Mundo) que Dilma havia atingido o teto de transferência de votos de Lula, algo entre 15 e 20% do eleitorado. Agora que Dilma reformou seu pé-direito e chegou aos 30%, Montenegro afirma que este é o teto.

Ok, ok, o teto poderia mudar com o tempo, as análises poderiam variar. Uma argumentação razoável poderia explicar tal variação. Porém, ao lermos a argumentação (sic) de Montenegro em setembro do ano passado para dizer que o teto de Dilma era 20% e lermos a argumentação (sic) para afirmar o mesmo dos atuais 30%, percebemos que o argumento é o mesmo! Sem trocar uma vírgula.

O argumento de Montenegro é minimamente coerente, apesar de eu achar que ele desconsidera pontos fundamentais e que também tem um pouco de wishful thinking misturado com uma cegueira para o “além–classe média”, mas o argumento se sustenta minimante, mesmo que não concordemos com ele.

Segundo Montenegro, a alta aprovação de Lula está descolada do PT, e a imagem deste está muito arranhada depois do episódio do mensalão. Desta maneira, quando a campanha colocar a questão de mais quatro anos de governo do PT (e não de Lula) ou uma alternativa para isto, as pessoas tenderão a não votar no candidato petista.

Como eu disse, não concordo com esse argumento, mas ele tem lá sua coerência interna. O problema (e que acaba com tal coerência) é derivar deste argumento que o teto de Dilma são os 20% que ela alcançou e, alguns meses depois, assistindo uma escalada das intenções de voto em Dilma, afirmar, a partir dos mesmos argumentos, que o teto de Dilma são os 30% recém-alcançados. Não faz qualquer sentido isso. É mero wishful thinking. Um wishful thinking tão frágil que o próprio Montenegro, na entrevista ao blog do Kotscho, encerra afirmando que uma vitória de Dilma não o surpreenderia (!!!).

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