terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Estações de esqui no Brasil melhorariam o rendimento de esquiadores na Itália?

As transmissões esportivas brasileiras são recheadas de ufanismo chulé que há muito é motivo de piada entre as pessoas sensatas o bastante para não se deixar levar por esses papinhos de “Brasil-il-il!!”. Qualquer jogo do campeonato de bocha das Ilhas Faröe, se uma das equipes tem um membro brasileiro, a narração esquece qualquer imparcialidade e vira torcida. Qualquer brasileiro participando de qualquer competição que seja ou é o favorito, ou é promissor, ou alguma explicação tem que ser dada para que isso não ocorra. Não sejamos injustos: nem toda narração esportiva deste tipo é burra. Costumam ser meio chatas e bestas, mas nem sempre são burras. Mas, bem... as vezes são burras.

Eu estava agora há pouco assistindo o início das competições de Esqui Alpino – Slalom Gigante no Sportv 2. Na verdade eu estava assistindo o Curling e fiquei meio puto quando cortaram pro Slalom Gigante. Tentei procurar outro canal que tivesse passando o Curling, mas todos tinham cortado para o Slalom Gigante por que um brasileiro seria o 70º a descer a montanha fintando as bandeirinhas: Jhonatan Longhi. Acabei me rendendo, por que apesar de não ser tão emocionante como o Curling, até que o Slalom Gigante é legal (e é disparada a competição esportiva com o nome mais bacana: Slalom tem uma sonoridade foda, e não é qualquer Slalom, é o Slalom Gigante!! Muito bacana).

Tendo um brasileiro pra descer a montanha, obviamente o assunto na narração era o cara. Até aí tudo bem. Pois então o cara desceu (segundo o repórter, no sacrifício, devido a uma dor no ombro) e fez um tempo do meio para trás na classificação geral (entre os 70 que já tinham descido, ficou em 58°, mas em tese os trinta e poucos que desceriam depois dele tendiam a ter tempos inferiores, pois tinham pior classificação inicial, se eu entendi bem). O comentarista então cravou que era um bom resultado. Longhi parecia concordar, comemorou no final da descida. Pô, achei bacana o cara ficar satisfeito. Beleza! É isso aí. Estar nas olimpíadas já é maneiríssimo, conseguir descer aquela montanha sem cair é show, fazer um tempo que acha bom, excelente! Tava tudo ótimo. Parabéns ao Jhonatan Longhi.
 
Mas pombas! Isso é uma transmissão esportiva brasileira narrando um brasileiro! Ele não é o melhor do mundo nem é promissor! Então vamos logo às explicações para esse desvio terrível da natureza. O tal comentarista começou com ponderações que parecem perfeitas: devemos comparar o resultado do brasileiro com esquiadores de outros países que não têm ou têm poucas estações de esqui. Identificando que nesta comparação o brasileiro estava bem, o comentarista emendou: imaginem se o Brasil tivesse estações de esqui? Jhonatan Longhi estaria brigando lá na frente!

Por que ele estaria? Por que teria mais tempo para treinar? Por que não precisaria deixar seu país para praticar seu esporte? Nada disso. Jhonatan Longhi nasceu no Brasil, mas foi morar na Itália aos dois anos de idade, adotado por um casal de italianos. Vive lá e treina por lá mesmo. Sem tirar o mérito do cara, por que brasileiros que cresceram na Europa ou na América do Norte existem aos montes, isso é até a explicação de ele ser o melhor esquiador brasileiro. Então fica a pergunta: por que a inexistência de estações de esqui no Brasil afeta o rendimento de Jhonatan Longhi? Só o carinha da Sportv pode nos responder.

Nenhum comentário:

Postar um comentário