quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Homens brancos não sabem enterrar


Uma notícia bizarra está circulando na internet. Já foi publicada, ontem, em sites importantes sobre esportes no Brasil, como Lancenet.com e Globoesporte.com, mas não consegui encontrar em sites americanos mais importantes. E por ser tão bizarra desconfio que seja mera pegadinha.

Mas a notícia é a seguinte: um ex-promotor de lutas de boxe e wrestling, Don Lewis, está criando uma liga de basquete apenas para brancos – só seriam aceitos jogadores nascidos nos EUA, filhos de pai e mãe caucasianos.

Bom, até aí é mais uma bobagem racista como muitas outras. O que me impressionou muito, e me fez escrever esse post, foram as [supostas – ainda não estou convencido de que isso é real] alegações do tal Don Lewis para a criação da liga. Segundo o Lancenet, uma das alegações é a defesa do basquete de fundamentos, em detrimento do streetball style das “pessoas de cor” – teria dito Lewis:

“– Cidadãos brancos nascidos nos Estados Unidos são, definitivamente, a minoria agora. Essa será uma liga para jogadores brancos que jogam o basquetebol de fundamentos.”

Porém, mais impressionante (e imbecil, claro) é a afirmação de Lewis citada pelo Globoesporte.com:

“– Não há nada de ódio no que estamos fazendo. Eu não odeio ninguém de cor. Mas as pessoas brancas, os cidadãos norte-americanos estão em minoria agora. Você gostaria de ir a uma partida e se preocupar com um jogador te ameaçando ou atacando nos vestiários? Essa é a cultura de hoje, e, em um país livre, devemos ter o direito de nos mover para uma direção melhor.”

Não é preciso ser nenhum gênio da análise de conteúdo para identificar conceitos bisonhos nessa passagem:

1)      Apenas as pessoas brancas são cidadãos americanos;
2)      Esses verdadeiros cidadãos americanos, os brancos, são uma minoria. Portanto, estão ameaçados e precisam de ações afirmativas (como a liga de basquete só para eles).
3)      Os jogadores negros (que não são cidadãos americanos) ameaçam os torcedores e jogadores brancos, os atacam nos vestiários – isto é, essa negrada é selvagem.*
4)      Em um país livre, os cidadãos americanos (brancos, homens de bem) devem ter o direito de se mover para uma direção melhor (isto é, devem ter o direito de criar uma liga apenas para brancos, não se misturando com essa gentalha).
5)      Nada disso é racista nem contêm um pingo de ódio às “pessoas de cor”.

Meu deus do céu, o reacionarismo americano é MUITO assustador!

*Essa coisa de “ataque no vestiário” é referência ao episódio ocorrido no início do ano em que o jogador Gilbert Arenas sacou uma arma de fogo no vestiário do seu time, Washington Wizards, em uma briga com seu companheiro de equipe Javaris Crittenton – que na verdade é negro também.

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Mas essa história também tem seu lado divertido. A NBA faz muito sucesso pelo espetáculo que são seus jogos. Você não precisa torcer por nenhum time nem o jogo precisa ser decisivo para se entreter assistindo um jogo da NBA justamente pelo streetball style das jogadas. Imaginem o saco que seria assistir um monte de branquelos jogando “basquete de fundamentos” – afinal de contas, homens brancos não sabem enterrar.

Um comentário:

  1. Piada que vi num programa na GNT:

    "Uma liga de basquete exclusiva para brancos foi criada. Até agora, o placar é 0 x 0".

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