quinta-feira, 29 de abril de 2010

Das pequenas alegrias da vida


Tem umas coisas muito bobas que podem trazer felicidade para uma tarde.

Ontem aconteceu o esperadíssimo jogo de volta da semifinal da Champions League entre Barcelona e Inter de Milão. Eu queria ver o jogo na ESPN, principalmente por causa dos comentários do Paulo Vinícius Coelho (pra quem não conhece, o melhor jornalista esportivo do Brasil, reconhecido por milhões de coisas, entre as quais destacarei aqui sua grande capacidade de entender taticamente um jogo de futebol), mas meu pai preferia ver na Globo, pela melhor qualidade de imagem. Acabei concordando com ele.

Para quem não acompanhou a partida, aqui vai resumo bem sintético: o Barcelona precisava ganhar por 2 a 0 e na metade do primeiro tempo o volante Thiago Mota, da Inter, foi expulso; com isso, o jogo virou um impressionante ataque (Barcelona) contra defesa (Inter).

Eu não sou um super analista tático, mas com o jogo resumido a um quarto de campo fica bem fácil perceber os esquemas táticos dos times, e é sobre perceber isso que é a minha felicidade. A Inter montou um 4-4-1, com duas linhas de quatro, deslocando Chivu (lateral esquerdo que começou o jogo na meia esquerda) para a cabeça de área junto com Cambiasso e recuando os dois atacantes para fechar a linha de meio campo – Diego Milito pela esquerda, Eto’o pela direita. Sneider ficava pelo meio, a frente desta linha, mas também atrás da linha da bola. A primeira linha de quatro se posicionava dentro da área e a segunda a frente da área, desta maneira, anulando os jogadores de ataque do Barcelona.



Foi a maior retranca de todos os tempos, e funcionou muito bem, o Barcelona, um dos melhores ataques do mundo, simplesmente não conseguia criar jogadas de perigo mesmo tendo mais de 70% da posse de bola.

No segundo tempo começaram as substituições. A primeira delas não alterou o esquema tático do jogo, Guardiola (técnico do Barcelona) botou Maxwell, lateral brasileiro, no lugar do zagueiro argentino improvisado na lateral esquerda Gabriel Milito. A primeira alteração do Inter também não mudou muita coisa: José Mourinho (técnico da Inter) trocou Sneijder por Muntari, que atuou na posição que atuava o irmão Milito interista, que passou a atuar onde Sneijder atuava.

Mas aí que aconteceu o pulo do gato. Aos 18 minutos do segundo tempo, Guardiola tirou Ibrahimovic e Busquets e pôs em campo os jovens Bojan e Jeffrén. Com isso o time mudou seu posicionamento em campo, o que fez Mourinho se mexer. E aí que está o motivo da minha alegria: eu percebi que Mourinho fez cagada. Com a intenção de se proteger ainda mais, ele tirou Diego Milito e colocou o zagueiro Córdoba. Com isso, o time passou a jogar com uma linha de cinco dentro da área e três na entrada da área, com o Eto’o mais a frente e voltando para compor um quarto homem pelo lado esquerdo do ataque do Barcelona.



Nem sempre aumentar o número de zagueiros vai fazer um time se defender melhor, e essa substituição do Mourinho mostra isso com clareza. Abriu-se um buraco à frente da área, criando-se espaço para Messi e Xavi criarem jogadas. Repare que para marcar uma linha de cinco (Maxwell-Keitá-Xavi-Messi-Daniel Alves) a Inter tinha uma linha de 3 e meio (Cambiasso-Chivu-Muntari, com Eto’o voltando pra compor). Para acompanhar a subida dos zagueiros, que se tornavam centroavantes, nem pensar então! E não foi a toa que o gol saiu justamente de um passe do Xavi para o Piqué.

Mourinho, logicamente, viu isso e tirou Eto’o para a entrada de Mariga, recompondo a linha de quatro. Mas o problema continuou, porque continuava a desvantagem interista à frente de sua área. Mas o juiz apitou o final do jogo e o Inter se classificou, afinal o Barcelona precisava de 2x0.

Eu percebi tudo isso assistindo o jogo na Globo. Falcão, bom comentarista da Globo, não falou nada disso. Seu comentário sobre o gol foi criticando o carrinho que Córdoba deu desesperadamente para tentar cortar um possível chute do Piqué, que, como se fosse cetroavante de ofício, girou, deixando Córdoba e Júlio César a ver navios, e chutou com o gol escancarado. Isso é bem comum nos comentaristas mais tradicionais do jornalismo esportivo brasileiro: eles se focam em questões técnicas (o jogador que chutou bem uma bola, o bom drible, o erro no bote do zagueiro, etc...) desconsiderando questões táticas. Isso reflete claramente as características do próprio futebol brasileiro, muito preocupado com a técnica e um pouco desatento à tática.

Durante o jogo, expliquei o que eu estava vendo pro meu pai. Ao acabar o jogo colocamos na ESPN e estava passando os melhores momentos do jogo enquanto o PVC comentava. E ele apontou exatamente o que eu tinha falado com meu pai durante o jogo: a entrada do Córdoba tinha aberto muito espaço na frente da área do Inter, especialmente pelo lado esquerdo do ataque do Barça.

Pombas! Eu vi a mesma coisa que o PVC viu no jogo!! Fiquei feliz pra cacete, me senti o próprio PVC! Ganhei o dia com essa.

2 comentários:

  1. Foi, de longe, a retranca mais bonita que eu já vi!!! Cansado de ver Joéis Santanas, Parreiras e Dungas no Brasil, vi uma retranca que deixava um defesaXataque de 90 minutos, mas lindo!!! Jogão!

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  2. Aprendendo um pouco de Paint você vai longe.
    ;)

    e eu não vi o jogo...

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